Pesquisar este blog

sábado, julho 02, 2011

O amor na janela ao lado.


Ineficácia invade-me a mente em mais uma solitária tarde. O sorriso não tem nenhum sentido. As lágrimas hoje caem sem motivo. O que acontece comigo? Não sou nada ao mundo, acho que enfim dei-me conta disto. Não ousaria continuar se desconhecesse o fato de que tornaria-me apenas mais uma coisa inacabada. Jogo-me ao vento esperando ver o que acontecerá de novo nessa cidade pacata. Uma sonoridade diferenciada invade a rua. Direciono-me a janela para observar o que estaria acontecendo por ali. Garotos da minha idade conversam na calçada enquanto cantam músicas antigas parecendo não importarem com nada. Provavelmente, se o mundo estivesse acabado naquele momento, continuariam ali, sem se preocuparem. Devem ser amigos do novo vizinho, só cruzei com ele algumas vezes durante o tumulto habitual. À algumas semanas eu não pensaria duas vezes, iria para a rua, apresentaria-me e permaneceria ali. Porém, atualmente, não sou mais esse tipo de garota. Sou aquela que passa calada, na dela, fingindo não ver nada acontecer. A campainha toca despertando-me dos meus escassos pensamentos no parapeito da janela recém envernizada. Abro a porta com a mesma feição comum de fastio. Era o recém chegado vizinho.
- Por acaso aí tem gelo? Esqueci de encher as formas e a cerveja ta quente.
- Sei lá, acho que tem. Entra ai. Cerveja quente é um porre né?
- Não suporto.
Aquelas risadinhas sem graças de quem tentava puxar assunto dominaram a sala. Entreguei-lhe a forma enquanto ele dizia:
- Valeu, quebrou um galhão. Por acaso a gente ta incomodando? Meus amigos são um pouco barulhentos.
- Nada, sem problema, eu gosto de barulho. Essa rua geralmente é silenciosa demais.
- Vem aqui pra fora, eu te apresento pra eles. Isso é, claro, se não estiver fazendo nada...
- Ah deixa pra outro dia.
- Hum... Tudo bem então. Obrigado pelo gelo.
O som da porta ecoou casa a dentro enquanto perguntava-me por dentro, porque afinal de contas haveria recusado o convite. Eles faziam o meu estilo comum de amigos, uma leve pegada de rock mesclada em gargalhadas e ótimos cortes de cabelo. Deixei pra lá, fiz um chá e adormeci ali no sofá. Acordei com o sol invadindo meus sonhos ao entrar pela fresta da cortina. Fiz o café e fui delicia-lo na varanda da frente. Não demorou muito o tal garoto apareceu rangendo os degraus e perguntando se poderia se sentar. Permanecemos ali por horas, jogando conversa fora. E assim começou a ser todas as manhãs com o vizinho do jeans surrado. Diferente do restante das pessoas, ele parecia não cansar-se do meu tédio contagioso ou da minha risada escandalosa. Não precisava de convite, ele só vinha. Essa noite bateu a minha porta à meia noite, puxou-me pelo braço e derrubando-me no gramado dizia com um sorriso no rosto:
- Olha a lua.
- Lua crescente.
- Não, OLHA a lua.
- Como assim?
- Ela ta linda. Parece que se esticarmos o braço, poderemos tocá-la.
- É, ta linda mesmo.
Fixou os olhos sobre mim.
- Sabe o que é mais lindo que a lua?
- O que?
- O jeito como seus olhos brilham.
E beijou-me, daquela maneira meio desengonçada que só ele sabia ser. Depois pegou o violão que havia encostado na parede de sua casa.
- Olha o que compus.
E tocou a mais bela das canções que eu já ouvira. Todo o mundo parecia haver desaparecido. Existíamos apenas nós. Acabei por adormecer ali no jardim. Acordei na sala abraçada por ele. Quanto tirei satisfações de como havia ido parar ali, ouvi um:
- ETs te abduziram e deixaram você ai.
Após diversas risadas, disse que me trouxera para dentro por lá fora estar muito frio e que acabou por dormir aqui. 
- Folgado.
- Pelo menos eu te carreguei.
Beijei-o. Não sei muito bem porque, mas ele era tão encantador... Alguns meses depois, toda a chatisse, o tédio e o desânimo me abandonara graças a presença daquela criatura perturbadora e adorável. Não sei muito bem, acho que apaixonei-me pelo garoto da janela ao lado.

Um comentário:

  1. wonderful photo <3 amazing blog! visit me and follow me blog<3 kisses;**

    ResponderExcluir