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segunda-feira, setembro 18, 2023

Equalizar

Li em algum lugar que, a cada vez que lembramos de alguém ou alguma coisa, apagamos um pedacinho dela da nossa memória. Eu me odiei por alguns segundos por todas as vezes que me lembrei de você. Meus planos eram te carregar na memória pelo resto da vida, mas em meia década meus planos escorreram pelos dedos. Você tem desaparecido. Eu não consigo mais me lembrar do seu rosto, apenas de pequenos relapsos dele. Me lembro do seu bigode com as pontas ridiculamente arqueadas para cima. Me lembro do seu nariz, e de como você dizia que ele era simétrico (e você estava certo). Me lembro do seu cabelo, que caía na testa toda vez que você despretensiosamente balançava a cabeça para se pentear. Hoje em dia, o bigode não tem mais pontinha, o cabelo não é mais longo, o joelho não faz mais barulho ou a costela não é mais quebrada... Mas uma coisa eu me recuso a esquecer. Dos seus olhos âmbar que encontravam com os meus. Essa noite me despedi de vários fantasmas que ainda pairavam sobre mim, mas sobre você eu quero me lembrar. Aqui dentro, os sentimentos, sempre de amor, ganharam novas formas de amar. Aqui dentro, você será sempre lembrado como um pedacinho do que era estar em casa, quando as piores tempestades pareciam me assustar. Sobre o quão grande e forte eu posso ser sozinha. E sobre o quão bom pode ser falar de besteiras ouvindo os sapos coaxar. Eu não me lembro mais tão bem sobre você, mas eu me lembro sobre como você me fazia sentir. Eu me lembro do melhor primeiro encontro já feito e também da pior festa sertaneja que poderia existir. Eu me lembro da valsa mais solitária que já dancei e da melhor cerveja que já tomei. Eu me lembro de três meses que pareceram durar anos. E me lembro de como foi assistir todo esse sentimento se transformar e ser guardado em um lugar tão bom que quero revisitar por muitos anos. 

Eu me lembro de partir e me lembro de você deixar. 

Eu me lembro de equalizar o amor.
E de te guardar.

Que você esteja bem, vivendo uma vida boa, leve e tranquila... E que, às vezes, se lembre de uma frequência que só a gente sabe.

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