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terça-feira, outubro 05, 2010

O Garoto do outro lado da rua.


O sol me invadiu os olhos, me obrigando a despertar. A rua já estava agitada. Percebi que perdi todas as minhas chances de voltar a dormir. Desci as escadas com toda a preguiça da manhã de sábado. Fui até o jardim olhar um pouco a rua. Derrepente percebi uma figura desconhecida olhando para mim e sorrindo, da porta da casa da frente. Obviamente sei porque ele sorriu, eu ainda estava de pijamas e meu cabelo ainda estava bagunçado. Percebi ele andando em minha direção. Apresentou-se como Gabriel, mas que poderia chamá-lo de Gabe. Acabava de se mudar. Ele não tinha daquelas belezas óbvias, era daquelas belezas exóticas, que você tem que olhar duas vezes para gostar. Mais tarde ainda naquele dia minha mãe me pediu para levar alguns biscoitos aos novos vizinhos, lá fui eu, dessa vez um pouco mais bem arrumada. Gabe atendeu a porta e acabamos ficando horas conversando. Descobri que assim como eu, ele amava fotografias, pintura, cinema e músicas. Depois daquele dia nos víamos sempre, nos tornamos grande amigos. Até o dia que estávamos voltando de um showzinho de música alternativa, ele me virou, olhou-me com aqueles encantadores olhos castanhos e com as bochechas coradas, me beijou. Sem dizer uma única palavra, me soltou e foi andando alguns passos a frente, como se não tivesse acontecido nada. Eu, furiosa, o alcancei com o passo rápido e gritei: “- Como assim Gabe?” Ele sorrindo disse: “-Eu te amo, sempre amei. Desde aquele dia na porta de nossas casas, você com aquele pijama listrado e aquele seu cabelo perfeitamente desarrumado, com todos aqueles sonhos nos olhos e sem nenhum medo de sonhar novos. Foi impossível não me apaixonar. Você é irresistível para mim, é doloroso ficar ao seu lado e não te ter.” Eu, ainda sem entender muita coisa, perguntei porque ele havia me beijado sem dizer nada. Ele respondeu que não se ama com palavras, assim como não se vive de sonhos, sonhos são apenas idéias do futuro, as quais deverão ser perseguidas. E foi assim que o garoto do outro lado da rua me ensinou a viver. Com aquela noite inesquecível. Duas semanas depois Gabe se foi. Ele tinha leucemia, mas nunca parou de sonhar. Já derramei muitas lágrimas por ele, porém elas não o trarão de volta. Eu o amei com o amor mais puro e ainda o amo. Um dia ainda nos reencontraremos, mas só quando meus sonhos se cessarem. Afinal, ele me deu a vida e de nada adianta respirarmos se não corrermos atrás do que vivermos.

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